segunda-feira, 23 de novembro de 2015

De Malataverne a Donzère - 6° dia de ViaRhône

Mesmo com chuva e frio, não cogitávamos ficar mais um dia no hotel 4 estrelas, era um luxo desnecessário, aproveitamos a primeira janela de tempo e saímos de viagem rumo a ViaRhôna. Não tivemos muitos minutos de sossego, logo começou a chover e nos abrigamos embaixo de uma pequena laje em uma floricultura na cidade de Donzére.

Que boa ideia, essa parada me faria mudar a impressão sobre a bondade Francesa. Após 10 minutos vendo a água cair, passa na nossa frente uma senhora, de calça, camisa e sapatos brancos, com um colete bege e um longo cabelo branco. Com um sorriso simpático ela nos cumprimenta (bonjour), e, carregando um monte de sacolas, segue seu caminho.

Comentei com a Andrea: - "simpática essa senhora". Eu senti que ela não deu um "bonjour" qualquer, o sorriso foi mais revelador. E, como não podia deixar de ser, em 3 minutos ela aparece no final da rua nos chamando. No mesmo instante comecei a empurrar a bicicleta em direção aquela senhora, a Andrea fez o mesmo. Abrindo as portas da casa para que pudéssemos entrar com o trailer do Nicolas, sem a menor frescura com o fato de estarmos ensopados, ela rapidamente nos colocou para dentro de sua casa, protegidos da chuva e frio.

- "Est-ce que vous voulez un boisson chaud?" Perguntou a senhora, cujo nome, Jocelyn nos foi apresentado em seguida.

Nos apresentamos também, aceitamos xícaras de chá bem quente, Já para o Nicolas foi banana  e água. Que gostoso, as energias do lado bom da força nos colocava agora no caminho das pessoas certas. Perguntei a Jocelyn se ela era médica, me parecia óbvio devido a roupa que ela usava, mas eu estava enganado.  Ela apenas respondeu que não, com um outro sorriso revelador.

Começou a contar que iria fazer rapidamente um almoço para levar para sua mãe que estava no segundo andar e que não podia descer, e que, em seguida faria um almoço para nós. Agradecemos a gentileza, mas dissemos que não queríamos dar todo esse trabalho, estávamos acanhados. Ela nos levou até a sala / biblioteca e pediu que aguardássemos um pouco ali. Ela cozinhava, mas ainda sim conseguia dar atenção a nós que estávamos na sala.

Após ouvir nossa história, também sobre até onde pedalaríamos, ela se propôs a verificar na Internet a previsão do tempo para os próximos dias. Foi então que ela me convidou para subir, enquanto levava o almoço para sua mãe. Augusto, quero te apresentar minha mãe, venha cá.

Lá estava eu no quarto da mãe da Jocelyn, eu havia entrado dentro de uma cena de um filme, um filme francês. Aquela senhora tinha uma mãe na faixa dos 90 anos, sentada em uma elegante poltrona, em frente a televisão, ela recebia a bandeja do almoço apoiada em um braço próprio para recebê-la. Ela me cumprimentou com um sorriso tão revelador ou mais que o da própria Jocelyn. Mãe e filha me fitaram admiradas, não se se percebendo que quem estava admirado era eu. A mãe da Jocelyn, uma senhora elegante, com cabelo e maquiagem na medida, com um transparente tubo de oxigênio que lhe auxiliava a respiração, perguntou do Brasil, sobre a viagem de bike e, ainda indicou para a Jocelyn o Site mais confiável para consultar a previsão do tempo. Atrás de sua poltrona havia uma gigante cama king size, daquelas com cabeceira que só vemos em museus, ao seu lado uma mesa de trabalho que parecia ter sido feita com as mesmas madeiras utilizadas pelo povo Romano em suas carroças medievais; Se não fosse a grande tela do PC que estava ao centro da mesa, eu até poderia me confundir sobre o ano em que estávamos.

Deixei aquele quarto em estado de transe. Subi mais um andar atrás da Jocelyn e chegamos a um ateliê de pintura. Foi quando ela se apresentou como artista. Lindos quadros para todos os lados, alguns ainda em estado de criação. Fomos até uma mesa, com um note Mac de 17 Polegadas e ela rapidamente me dava a boa notícia do Sol que abriria no dia seguinte e se manteria até o sábado. Descemos e ela aproveitou para contar um pouco da história daquela casa, construída por volta de 1830.

Recusamos a oferta da Jocelyn de dormirmos em sua casa, não queríamos dar mais trabalho, ela já tinha nos oferecido muito, pedi então uns minutinho para correr em um Gites de France que havíamos visto antes de parar na floricultura. Fui até lá e encontrei um quarto disponível. Voltei na Jocelyn para apanhar a Andrea, o Nicolas, bicicletas e toda a bagagem. Não sem antes agradecer a Jocelyn do jeito que ela merecia: Jocelyn, estou muito contente por haver no mundo uma pessoa como você, acolhedora, simpática, gentil e amorosa. Precisamos de mais pessoas assim no mundo, obrigado por tudo que nos proporcionou. E, com um aperto no coração, saímos com todas as nossa coisas rumo ao Gites.


Dentre os poucos registros deste dia da viagem, devido a chuva, está esse dentro da cozinha da Jocelyn.

E esse do centro de Donzère, a noite, quando saímos para comer uma Pizza, no único lugar que encontramos aberto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mande sua mensagem por aqui.